26.12.12

Mania de pensar no divórcio das sílabas

aprender...

a_prender, a prender...

Será essa a difilcudade?

Sim, bati com a cabeça...


Eu tô me
perguntando...

E lá dentro
eu tô me respordentro...
respondando...
respondendo,
apodrecida ou apobrada ou aparecida
demais
?



Viajar,
viajar
pra
quê
?

se
toda vez
que a gente volta
a gente volta
mais
infeliz
?


(Não sei quem escreveu)

(Roberto recitou)

(Mas
  isso
é porquê
a gente viaja
e não entende
que é preciso
viajarviajarviajar viajar indefinidamente...
que esta vida é urgente!
Aprendi com Quintana
que ensina
viverviverviver poesinfinitamente...

eu
acho...
achar 
é uma certeza particular)

18.11.12

atrás de um bocejo...

Então, não tenho culpa se sofro de insônia, ou de ânsia, já que é a fartura de vontades que me pertuba e não me deixa dormir. Isso é bastante grave, vejam só: não durmo porque os desejos me inquietam, acho de querer movimento quando todos dormem e eu devia fazer o mesmo. E o que sucede é que quando os meus desejos podem ser possíveis, palpáveis, eu é que estou improvável, sonâmbula, sonolenta, tarde. Meu relógio é japonês, fuso-horário. Anoiteço o dia. Acordo à noite... Há 6 anos esse desacerto... esse círculo que se repete e me leva a ficar mais ansiosa, porque é um acúmulo de vontades não-concretizadas, e mais vontades que nascem e nascem e nascem num horário impróprio para ações-alardes. 
Só me resta escrever mesmo que é um jeito de conversar sozinha ou mesmo de conversar com o outro sem que seja necessária a sua presença. Mas ainda uma presença desejada.
Escrever é um auto-diálogo, válido, porque todo diálogo é um encontro, uma descoberta.
Converso comigo e me descoberto. O outro que lê me descobre e se descobre. Quando a gente conversa é assim: nos descobrimos. Se quisermos, é claro!


Estou aqui, de conversa comigo só pra ver chegar o sono, desonsidere qualquer ausência de linearidade ou sentido cm o que estou falando, é só porque a cabeça está cheia e é preciso esvaziar... A cabeça quando está cheia é de palavras, o cérebro sabe que o mundo é possível nas palavras, os sonhos conseguem ser contados por elas, as dores, os medos, até o nada. Estou aqui despejando elas porque minha falta de sono é excesso de palavras guardadas, ações paradas, tardias...


14.11.12

Queria dormir
mas
evitar os sonhos
(os sonhos agora é minha desculpa para não dormir...).

Essa noite sonhei que um homem magrelo, cabeludo, alto e desengonçado, se esbarrou em mim, quase me derrubando, num lugar que parecia um supermercado. Ele se aproximou, nem pediu desculpas, e encostou seu rosto no meu para ler um cartaz que eu também lia. Percebi que ele gostou de mim, comovida me apaixonei por ele. Assim, sem mais nem menos como é nos sonhos.
Seguimos caminhando, olhando-nos encantados. Ele dizia as razões do seu encantamento, mas na minha cabeça só vinha a mais pura verdade que eu não dizia: só gostei de você porque você gostou de mim. Então eu só sorria. Seguia caminhante, sorridente e desconfiada do meu próprio gostar.
Sei que o sonho não teve grandes emoções; que paramos numa esquina e uns amigos nos chamavam para assistir um número de palhaçaria na igreja; que quando eu percebi que era sonho, dentro do sonho, não quis acordar e tinha uns lapsos de lamento, de saudade antecipada (continuo saudosista nos sonhos), por ter que abandonar ali uma figura que gostava de mim e que porque gostava de mim, eu gostava dele.

Fatalmente acordei.
E com saudade do moço.
E consciente da minha carência.

Hoje não quero nem dormir.

Difícil

... que a vida é difícil. acho muito difícil viver e tudo que nasce nesse instante permanente de agora, enquanto se vive. tudo isso que pesa. tudo que eleva. difícil amar, encontrar, ser só, só ser... quebrar as quatro paredes da minha casa e ir além, ir na varanda, ir à vastidão da rua, dar minha cara à tapa, minha boca ao beijo, meus pés ao vento, à estrada. queria trancar a porta e jogar a chave para dentro da casa, não voltar nunca, ir sempre, ir... acho que carrego uma âncora no peito... 

1.11.12

Que eu

acorde

dissonante.

primavera, 2012.

não é hora de flutuar

fluir por intermédio da terra é o caminho

posto que estrada é chão

e chão não é limite

escrever com o pé

carimbo

movimento

a cor dar

cor ação
não é hora de flutuar

fluir por intermédio da terra é o caminho

posto que estrada é chão

e chão não é limite

escrever com o pé

carimbo

movimento

a cor dar

cor ação.

19.10.12

Não é só isso III

Fluxo:


TEATRO

Meu pobre antropofagismo
quer
pôr
xícaras
no
bico
dos
seios.


TEATRO (e ainda na onda dos meios)

-lugar de onde se vê
espelho
reflexo
imitação
caricatura
a vida do outro
na sua
lugar de onde se mostra
somente eu
meu eu
seu eu
nossos tormentos
vossos anseios
res peitos
sus
peitos
abrir os poros
as janelas do corpo
a casa e seus chakras...

exercíciode utopia
necessária utopia

O teatro é utopia
porque logo
o mundo é utopia
o corpo é utopia
a língua o silêncio a democracia
a aristrocacia o capitalismo o antropofagismo
o amor livre o amor o livre até as águas poluídas
do Tietê são utopias
Só os sonhos são R$


utopia pianinha
nesse lugar
é amplificada
fragmentada
profunda
cutuca
deixa escapar
flexas, luas e leões

e só
presentificando-se
que é possível recriar
e criar
mundos e
unir versos
onde nada é falso
porque tudo é invenção.



(aos poetas

cláudio willer
e
manuel de barros
que me ensinam
sublimar
o palco.
A vida)

Dívida

A cruz do meu avô. Tenho que levá-la
para quem é dono.O meu avô.
Até tive pesadelo com ele.
O bichinho só pedia corbertor.
Coberta... Coberta...
Pedia ele.
No sonho era vivo,
mas já tinha cara de morto.
A cara que morreu.
Meu avô não era aquela cara.
Era cantador
e contador
moreno negro dos
cabelos mais
brancos,
devoto de São Cosme e Damião.
Gostava de ternos
ponteiros pontualíssimos certos
guardar coisas velhas
consertar coisas tortas.
E se não me engano
morreu na primavera
nos
festejos
dos gêmeos santos
Meu avô.
Pai de um par
de gêmeas
arvoradas e avuadas.
Gêmeos é meu signo
ar meu elemento
mas não tem nada a ver com isso.
O caso é que meu avô
está pedindo cobertor, Meu Senhor.
E pra falecido, cruz deve servir de coberta.

compartilho o statos de Vivir en Utopia

La libertad hay que inventarla siempre
la libertad puede ser del esclavo y fallarle al señor
la libertad es gritar frente a la boca gris de los fusiles
la libertad es amar a quien te ama
la libertad es comer y repartir el pan
la libertad es no ocupar el asiento en el festín de la ignominia
la libertad a veces es una simple linea fronteriza
la libertad es la vida o la muerte
la libertad es la ira
la libertad se bebe y se respira
la libertad es una cantar en tiempos de silencio
la libertad si quieres sera tuya
pero
solo por un momento
porque cuando la tengas
se escapara riendo entre tus manos
y tendrás que buscarla y perseguirla
por las calles, ciudades, praderas, desiertos
de todo el vasto mundo.

Jose Agustin Goytisolo.

15.10.12

Manhosa Música

é muito cinza esse vestido da
manhã
o dia inteiro
frio e revoltados ventos a passeio
quando é
manhã
e eu triste que só
vou parecer que sou
manhã
o dia inteiro
por quanto tempo que é
que consigo ficar
me dando para a cor
o dia inteiro
e a passeios?
meu coração não dormiu
acordei
manhã.
não teve chuva, nem choro
nem um chorinho.
acordei
de
manha.



 Out, 2011 -  primavera insone e nebulosa.

14.10.12

Andorinhar


(inspirado na Fuga das Andorinhas.)

nós, andorinhas, somos pequenas,
à favor do vento
e do pouco espaço
somos pequenos pássaros
passageiros
desbravadores
do bom tempo
desbravamos dores
à procura de
chuva fecunda, que fortalece
e não ofusca, a Realeza-Estrela
Astro-Rei do meu peito, interior.

gostamos de calor.
que o coração é asa
e nescessita de primavera
casa aérea, alimento aéreo
ave amor.

espécie volátil
que foge
dos homens cinzentos
do frio eterno
de inverno certo. Amém.

nós, andarilhas andorinhas
andamos atrás de ardor
ardor
ardor
ar, dor
... vôoando.





CONJUGAÇÃO AÉREA

Avemos
amemos
amamos
andorinhar
andarinhamos.


Out, 2012 - primavera.

Me reconheci:

A FUGA DAS ANDORINHAS

Num céu de prata oxidada,
nem um fiapo de azul...
Toda a fauna, arrepiada pelo frio
embioca-se nas matas e nos grotões.

Extravasam os tanques.
Alargam-se os brejos.
E, na calma cinzenta da terra molhada,

Ouve-se apenas
a monodia da chuva...

É o inverno que chega.
São andorinhas que partem,
buscando novo sol,
querendo nova luz.

Georgina Erismann

1.10.12

rascunho



Ah, baby, e se existir mesmo o mar?
Contra a tediosa corrente de sempre iremos nadar, nadar, nadar?

30.9.12

Reza

Que deus me dê um par de asas que
eu quero voar, peito a passarinhar.
Um Terceiro Olho que olha para
dentro e enxerga claridades
que são desejos: anjos de guia,
e reje, governa, ilumina e guarda.
Um corpo que saiba que é casa,
e que maior é quem mora:
alma.

Deus, me acalma...
que eu quero abrir caminhos e
azular solidões nubladas.

Qual balde chutar primeiro?

O medo do erro
não faz acerto.


19.9.12


v
ã
o

dos olhos
água.
 

11.9.12

Essa não é a história de um gato


  1. Por onde será que anda
    a sra. curiosidade centopeia
    que faz o mundo caminhar e
    que matou o gato que era um saco
    cheio de questionários,
    não questionamento,
    valor, 
    números,
    estatísticas
    e quadrado gênero
    dos gráficos de linhas retas?

    O ponto.
    (O gato é que era suicida
    e a senhora chegou foi tarde.
    Ele morreu porque queria seu nome escrito,  
    retrato emoldurado, saudade na fita e 
    uma estátua em sua homenagem: outro ser suicida crucificado dizendo que o ama...
    Quem sabe entrar num jornalístico dado...
    O gato que era um chato, 
    queria morrer e nascer homem e imitá-lo
    para colecionar valores (m)orais números carros montanha de concreto e 
    afetos-ouro-de-tolo-caro,
    quando nasceu sendo,

    pôde pensar e pensou:
    vou morrer, pois é assim que vive um homem.
    E assim viveu
    até se suicidar de novo.)

    A curiosidade não matou o gato,
    e sim Sua Ausência, 
    dona fraca e veaca.

10.9.12

A Balada do Vira-Mundo

... me solta, gente! Eu quero atravessar a fronteira.
...Quero ouvir saudades cantadas, choradas, suspiradas,
Molhadas de suor na segunda classe, onde emigrantes fazem mútuas
confidências.
Quero sentir o vento levantando meus cabelos
Quero encher os pulmões com o ar puro dos campos
Quero jogar o resto de tabaco do meu cachimbo nas ondas revoltas.
Quero sentir os olhos dos

que procuram devassar horizontes longínquos
na ilusão de verem lenços acenando.
- Olhos tristes que lembram noites de amor e geram poemas –
Me solta, gente! Eu quero atravessar a fronteira,
Para saber se o beijo de Anor, a que mora em Changai e bebe chá na taça
de Porcelana,
É mais doce que o de Dolores, a que morreu na Rua Madri, agitando o lenço
no ar, como se fosse uma serpente de sangue,
E mais selvagem que o de Wanda, a que uiva de amor, como loba ferida
nos gelos da estepe.
Me solta, gente! Eu quero ir a Sacha por este mundo a fora,
Quero ver ainda os olhos da Sara perdidos no cais, como duas estrelas negras.
Quero respirar fumaça naquela taberna escura de Manilha.
Quero comprar corais daquele marujo cor- de- bronze,
Para que eles pareçam, no colo alvo da minha pecadora,
Marcas sangrentas que meus dentes fizeram.
Me solta, gente! Aquela menina araucana, morena de olhos pretos está me dizendo que o mundo é muito grande,
Enquanto os Andes parecem pontos de admiração gigantescos de cabeça para baixo, com
pingos de condores, quase invisíveis, no alto, parados.
Me solta, gente! Eu quero atravessar a fronteira!
Me solta, gente! Os trilhos do trem de ferro estão escrevendo meu destino no dorso infinito da terra.
Me solta, gente! A brisa do mar está me chamando,
Me chamando,
Me chamando...
 
 Camillo de Jesus Lima

doença da ânsia infeliz

tanto é meu desejo pertubado de andar, 

que paro.

***

minha marcha

pra lá e pra cá

não me tira do lugar.

***

Inquietação sem pé nem engrenagem

não dorme não morde não consola

não acalma

-cansa.


set/2012, fim do inverno. (e tomara que do inferno)




11.8.12

elemento elo

imagina um mar de rio, o mar é feito de margens, eu rio.

eu elemento ar
imagina que danço nos quadris do fogo
e  é  só  assim  que  o  mundo anda:
afogado e aceso
amando.

29.6.12

sem título

anda-se como quem quer

cada um com sua verdade:
corpo obsoleto, quadrado absoluto
um círculo torto.

procuro,
heroica, madalena e goiaba,

as verdades
que eu quero andar.
 
ando nua
 
de frio, de gosto, de gozo, de vazio.
eu ando nua
de verdade.
 
 
 
  fim de  maio, 2012

título

talvez por ser maio, talvez por ser mulher, talvez por ser molhada, talvez sobre moral, talvez por causa do aniversário, talvez por solidão, talvez por multidão, talvez pela imensidão, talvez pela pequinês, talvez por me assumir perdida aconteça de eu me esbarrar com a vida. Estou na vida e nem percebi.

fim de maio, 2012

edital




um calendário de poesia.
na rua. teatro. cena. trabalho. gozo.


(pausa para falar do gozo:
o gozo é a coisa mais sem nome que eu vivi no mundo.
pode ser o mundo o gozo.
o gozo pode ser tudo.
desde de um chupar gostoso a uma música te entranhando as pernas
o gozo é tudo.)

janeiro, moço fevereiro, março de peixes (ou era água?), abril para senhorita Maio e o poema do mais triste maio, junho, julho, a gosto setembro orgulho, ou tô no... 9embro, 10embro. acabou.
aí vêm as estações.
só não quero chegar nos dias.
pesquisar as semanas.
tenho dificuldade com horas, mas gosto muito do fim da tarde.


(pausa para um pensamento de dentro para dentro:
"aí, já me perdi.
a poesia é impertinente, pirraça e fica,
fica de teimosia, já mandei ir embora,
sou resignada em ser triste,
a poesia é culpada,
poeta de poesia teimosa.

é por isso que tô caçando emprego!")


fim de maio, 2012


poesia tolice

sonho de menino de 19

mãe, mãe
tinha uns quartos que ultrapassavam
os postes,
a vista das janelas eram as outras janelas
de vida alheia,
que por sua vez,
espiava nossa vida
como se fossêmos novela.
esses, que eram nossos, lares
tapavam, como se faz com buracos, o sol
tão gigante tão escuro...

assustada, a mulher perguntou para o menino,
que lar é esse, que monstro é?

o concreto, mãe.
o prédio.

5.6.12

Um outro Manuel

Poema do mais triste maio


Meus amigos, meus inimigos
Saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.


Acabou-se a idade das rosas!
Das rosas, dos lírios, dos nardos
E outras especies olorosas:
É chegado o tempo dos cardos.


E passada a sazão das rosas,
Tudo é vil, tudo é sáfio, árduo.
Nas longas horas dolorosas
Pungem fundo as puas do cardo.


As saudades não me consolam.
Antes ferem-me como dardos.
As companhias me desolam
E os versos que me vêm, vem tardos.


Meus amigos, meus inimigos,
saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.


(manuel bandeira)

Lenda dos que vivem às margens

Era uma vez...
duas senhoras, Ardência e Estranheza, 
que viviam às margens de um Mar montanhoso.


Estranheza era esguia, parecia um coqueiro,
seus olhos pareciam dois sois de ouro.
Pisava, apesar da leveza, sôfrega
na areia.
Era filha de Nanã.


Ardência,
ah já Ardência era um não dizer.
Engraçado, que Ardência, depois de velha,
deu pra ficar muda. 
Carcará praieiro: só se fazia ouvir,
quando cantava e era porque chovia.
Cantava acalantos feitos para não ninar.
Vejam só: acalantos de acordar!


Certo dia,
Ardência cantava porque chovia,
enquanto Estranheza,
pesadíssima, morria
na areia maré alta.
E assim foi até Estranheza morrer lamaçada de areia
enquanto Ardência cantava.


Ardência chorou tanto porque morria Estranheza.


E não se sabe se de cega ou caduca,
confundiu suas lágrimas com chuva
e por vários dias
cantou acalantos ensurdecedores.
Tempestuosa cólera de Ardência
inundou o Mar e tapou suas montanhas.


O Mar, revolto, endoideceu.
Não se sabe se pelos cânticos ou por inundação,
mas endoideceu
tanto que fez tudo girar
e da areia, grão a grão, poeira estrelar,
fez renascer Estranheza, do mesmo jeito,
antiga e reluzente.


E Ardência
ah já Ardência é um não tempo.
Pois sabe endoidecer o Mar...
Um Mar montanhoso.



3.6.12

8.5.12

casa alforriada

- ... eu não, eu mesma fui lá, tranquei a porta e devolvi a chave para ela. Agora, quando ela quiser, vai embora.
- Ela quem???
- A casa, ora!