Poema do mais triste maio
Meus amigos, meus inimigos
Saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.
Acabou-se a idade das rosas!
Das rosas, dos lírios, dos nardos
E outras especies olorosas:
É chegado o tempo dos cardos.
E passada a sazão das rosas,
Tudo é vil, tudo é sáfio, árduo.
Nas longas horas dolorosas
Pungem fundo as puas do cardo.
As saudades não me consolam.
Antes ferem-me como dardos.
As companhias me desolam
E os versos que me vêm, vem tardos.
Meus amigos, meus inimigos,
saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.
(manuel bandeira)