25.8.11

Introspecção

[...]
Chamamos de introspecção esta consciência de si como meio de passagem para potências inesgotáveis do eterno que é a vida. Escrever por introspecção, falar por introspecção, viver por introspecção, faz brotar alguma realidade muito original de nós – realidade que não quer dizer nada, mas quer apenas... brotar e seguir, brotar e seguir, brotar e seguir... 




http://amauriferreira.blogspot.com/2011/08/introspeccao.html?spref=fb



Os desvãos me constam.



Inexatidão





Estou estreita
e deserta de chão.
De ser tão... mar.
Um mar fervente.



24.8.11

amor em mim é
falta de sono e
excesso de sonho.

resíduo

carlos drummond de andrade




De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
.


[...]


Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?



[...]


E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.





Mas de tudo, terrível, fica um pouco...

20.8.11

c a o s d e arapuca
a o c e m
a o s/e m
c a o s a o s
d e c a r a p u ç a
i n c i t you
e x c i t e
fiz do fim da tarde, manhã

e agora
qualquer hora
me parece tarde.
porque tarde é.

Dezembro, 1961.

...De ver o teu corpo num pano cigano e sentir o teu cheiro que mora nas abas do meu paletó.
De quando eu, todo platéia, vejo da cama quando tu vagarosamente te pintas com cores de quase luxo. Diante da mentira do espelho és Narciso e és Orfeu, toda emperequetada.
De quando abres as portas do armário e tira dele tuas armaduras de guerra:
- O azul ou o vermelho? Qual te faz mais gosto?
Bem, de certo que o azul era por demais decotado, mas o tom era doce e compadecia, já o vermelho... O vermelho como nós sabemos tinha mangas rendadas e compridas, mas a cor denunciava todo e qualquer pecado.
E ainda que toda noite me fizesses maquinalmente escolher entre os dois, surgias sempre da pequena cabina com o velho vermelho satânico e desbotado.
E assim passariam nossas noites. Tu, iludida, a me fazer de tolo, eu, o tolo que tu querias, pediria-te apenas os olhos de fúria emprestados, sim, Ana, os pequenos olhinhos de fúria, para que com eles eu fizesse toda sorte de gozo, para que com eles eu me ressarcisse na noite e no tempo de tua ausência.



De Vicente à Ana.


(Massumi)