31.12.11

dia último

alegria nenhuma cabe: foi muita chuva. a noite inteira
nos olhos.

13.12.11

Designada

Sou de Chico
meu
ascendente é Raul Seixas.

O uso



eu autorizo o nome da minha imagem
uso, autorizo o nome da imagem dele
ele autoriza o nome da minha imagem
nós autorizamos o nome
a imagem é
o olho é meu
a imagem é o nome
não meu

.

as mulheres masturbadeiras

as mulheres que se masturbam são pouco rígidas, pouco invejosas, pouco angustiadas, pouco maldosas, pouco escapeladas, pouco faladeiras, pouco chateadas, pouco bisbilhoteiras; são descontraídas, nada prisioneiras. as mulheres que se masturbam são alheias à escuridão e a ventania. elas são radiosas! vagueiam acesas pelos Montes Apeninos. há pouca dissonância nas mulheres masturbadeiras.




juliana leite
foto: irina ionésco

20.10.11

diário, para aliviar

(...)

ás vezes uma saudade faz um buraco largo na sola do meu sapato e vai deixando escorrer, ou é ela mesma quem puxa, a alma de dentro de mim. Se bem que não é alma, é algo parecido com força, mas não é força. É a coisa que me deixa perto do palpável de mim, que não é lucidez, pois o meu palpável é fragmento. Pronto, encontrei: o fragmento ao cair dilata, e dilatado é um todo homogeneo e espesso; só mesmo assim esparramado no chão, na terra, terra que não tenho por dentro, é que há o mínimo de consistência. Sem o fragmento eu termino suspensa. Um inteiro de suspensão. O inteiro é vulgar e estagnado; sono que se dorme à tarde, fora do lugar, estranho. O fragmento que eu perco me perde e fico sem ser alguma coisa por um tempo sei lá. Depois é inventos. Saudade é recanto pontual, pois chega. Saudade é só mais um buraco... 
Nasci com 327 shakras, eu quase nasci mundo...

Não adianta eu querer andar reto: minhas pernas são tortas.



Joana Portugal
 a invenção do dia claro - título de um livro de Almada negreiros

2.10.11

o pouco aos poucos funciona. 
mas o que a gente quer é paixão, 
soluços, suspiros trôpegos. 


contar as estrelas na intenção de tê-las,
perder a conta, 
não ter nenhuma;
numa escuridão que por dever
assombra, e que por paixão
não ofusca
os delírios reluzentes -
delírios muitos... 
ca r/d entes somos, estrelas não.


o que a gente quer é paixão...
e um pouquinho dos poucos.

se reconhecer adianta metade: tô impotente.
As flores estão voltando...
não é engano, é primavera!






robson ferraz



3.9.11

A lua hoje,
o cigarro,
a virilidade de fêmea
e a
vontade de macho:
tudo se acende.

É noite de arder
pelos cantos
que daqui a pouco
esse cigarro apaga
e acaba
e se ascende
no meu peito aceso de tara.

Tudo se acende e não alastra, infelizmente.

25.8.11

Introspecção

[...]
Chamamos de introspecção esta consciência de si como meio de passagem para potências inesgotáveis do eterno que é a vida. Escrever por introspecção, falar por introspecção, viver por introspecção, faz brotar alguma realidade muito original de nós – realidade que não quer dizer nada, mas quer apenas... brotar e seguir, brotar e seguir, brotar e seguir... 




http://amauriferreira.blogspot.com/2011/08/introspeccao.html?spref=fb



Os desvãos me constam.



Inexatidão





Estou estreita
e deserta de chão.
De ser tão... mar.
Um mar fervente.



24.8.11

amor em mim é
falta de sono e
excesso de sonho.

resíduo

carlos drummond de andrade




De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
.


[...]


Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?



[...]


E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.





Mas de tudo, terrível, fica um pouco...

20.8.11

c a o s d e arapuca
a o c e m
a o s/e m
c a o s a o s
d e c a r a p u ç a
i n c i t you
e x c i t e
fiz do fim da tarde, manhã

e agora
qualquer hora
me parece tarde.
porque tarde é.

Dezembro, 1961.

...De ver o teu corpo num pano cigano e sentir o teu cheiro que mora nas abas do meu paletó.
De quando eu, todo platéia, vejo da cama quando tu vagarosamente te pintas com cores de quase luxo. Diante da mentira do espelho és Narciso e és Orfeu, toda emperequetada.
De quando abres as portas do armário e tira dele tuas armaduras de guerra:
- O azul ou o vermelho? Qual te faz mais gosto?
Bem, de certo que o azul era por demais decotado, mas o tom era doce e compadecia, já o vermelho... O vermelho como nós sabemos tinha mangas rendadas e compridas, mas a cor denunciava todo e qualquer pecado.
E ainda que toda noite me fizesses maquinalmente escolher entre os dois, surgias sempre da pequena cabina com o velho vermelho satânico e desbotado.
E assim passariam nossas noites. Tu, iludida, a me fazer de tolo, eu, o tolo que tu querias, pediria-te apenas os olhos de fúria emprestados, sim, Ana, os pequenos olhinhos de fúria, para que com eles eu fizesse toda sorte de gozo, para que com eles eu me ressarcisse na noite e no tempo de tua ausência.



De Vicente à Ana.


(Massumi)

10.7.11

Depois da chuva

as sombras, par dos ais,
caminham enxutas.

29.6.11

poesia

é atravesso
verso
trave
travessia
travesseiro
travessura


13.6.11

Feitura

Tô chicoteando para ver dançar.
Mas,
só dói em mim,
só eu danço.
Eu que pensava ser alforriada.
Chicote espinhoso
que bate no vento, torto, STLAK!
antes de me agarrar.


12.6.11

.

então, é isso:
minha liberdade é silenciosa;

e o manifesto não é nosso, é meu;

causas e causas,
e só o que me importa é a embriaguez,
o desatino,
um querer matuto, bruto,
tão bruto,
que é inocente
e louco.
Tudo em mim é vadio
e muito,
e pousa e voa,
a poesia é vadia
a alma,
o coração,
as horas. A vida.


E odeio políticagem!


P.S.: cansei, cansei, cansei...






22.5.11

Não quero ser flor


Não quero ser flor
Melhor é ser bicho
Sem trancas nem saias
Antes pernas que pétalas
Se o que quero é abrir...

Ainda me caso e viro puta:
um dia desses eu me desfaço.




13.5.11

a nossa legítima casca canceriana



Minha mão voltou pro braço, o braço pro ombro, o ombro pro tronco, entrei no casulo. Envergada feito plástico queimando, eu implodindo. Pulando em um buraco infinito, num poço sem fundo (em se tratando de física, um buraco negro, a morte de uma estrela.) Virei de costas pra você com minhas mãos estrelaçadas (pra te proteger).

(...)



ayume oliveira


Sou livre e tenho um Norte.


8.5.11

.



Toda essa loucura que vaga nos cantos do mundo,
vira e volta,
se envolve nos meus cabelos.

encaracolada, encaracolando-os.





garantia de morder carne nua,
afeto cru
e
gritos duros?

minha viagem é mais leve.


Crueldade também é amor...
Desde que tenham princípios, meios e fins recíprocos!




leonardo martinelli

19.4.11

acredite:


.

Deus é o santo protetor da mínima frouxidão.

.


Manuel de Barros

No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.


9.3.11

É só vergonha só:

de dar dó,
ops! nó,
... só...
não sei.



Ladainha

porque é quarta-feira de cinzas,
e o dia se fez cinza,
e até a chuva foi triste,
e eu não pude
deixar de compartilhar...
sendo assim, hoje fui triste também.

porque festa tem fim,
e oscila,
e cansada descansa
triste,
e cansada eu durmo e acordo
também triste.

e porque junto com a festa
de ontem,
foi-se olhar
que eu tinha para
olhar alegre.



mas por que raios um dia tem de ser de cinzas?


24.1.11

.

Estou dançando,
pareço leve,
apareçe um monstro,
me pegou pelas pernas,
e agora me engole:
Oh meu Deus, sou transparente
e corrosiva.
O monstro está queimando a língua,
desci ardente
desci menina.
O meu monstro é maior do que eu,
mas desapareçemos
porque somos nuvens...


d.

22.1.11

.Relatório II

Do jeito mais triste e lento
vesti o meu vestido de tudo, de quase luto,
longe, longo, elegante e escuro.
Onde é a festa hoje?
Onde eu farei a festa-de-cada-dia
se em mim tudo tem pressa? E ela
é triste que só... e eu.

Quando eu... quando que eu vou?

Fico aqui de festa triste esperando ônibus encontro estiagem de choro que requer espera porque dá pra esperar do meu jeito escasso de palavras estranho jeito engraçado jeito de amar de vestir vestido e continuar tão nua de pouco consolo alguma alegria querida quero tanto...

Eu te espero.

Eu te espero lenta.

Nos espere festa... lentíssima festa...



.

12.1.11

Do bom ir, de ficar bem.

eu prefiro esperar para te encontrar
do que
me despedir para te esperar.


5.1.11

.Relatório

Direcionada (ou não)
é a mesma cansada pressa, dessas
de fazer esquecer como se respira
o ar que por dentro passeia,
eficaz morfina.

A pressa é vício de quem quer escapar.
Derreter-se,
calar...
Desamarrar

Desde dessa escrita caótica,
que tem vontade própria de acabar,
ao tempo
que também é percebido
como caos...
Desde então...
tudo aqui é pressa.
E a pressa é cheia de enganos.


[estou cansada dessa]

.

Eu não sou responsável
pelos meus atos:
estou a salvo.

................................................................................

Exilada do;
que é teu mundo
que é vento,
isso que balança,
transeunte
vadio, antigo.

Fernando Pessoa - Álvaro de Campos

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser
O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão -
Qualquer coisa assim
Como um perdão?

Jacob Pinheiro Goldberg


A vida,

a gente
conta
grande.