30.9.12

Reza

Que deus me dê um par de asas que
eu quero voar, peito a passarinhar.
Um Terceiro Olho que olha para
dentro e enxerga claridades
que são desejos: anjos de guia,
e reje, governa, ilumina e guarda.
Um corpo que saiba que é casa,
e que maior é quem mora:
alma.

Deus, me acalma...
que eu quero abrir caminhos e
azular solidões nubladas.

Qual balde chutar primeiro?

O medo do erro
não faz acerto.


19.9.12


v
ã
o

dos olhos
água.
 

11.9.12

Essa não é a história de um gato


  1. Por onde será que anda
    a sra. curiosidade centopeia
    que faz o mundo caminhar e
    que matou o gato que era um saco
    cheio de questionários,
    não questionamento,
    valor, 
    números,
    estatísticas
    e quadrado gênero
    dos gráficos de linhas retas?

    O ponto.
    (O gato é que era suicida
    e a senhora chegou foi tarde.
    Ele morreu porque queria seu nome escrito,  
    retrato emoldurado, saudade na fita e 
    uma estátua em sua homenagem: outro ser suicida crucificado dizendo que o ama...
    Quem sabe entrar num jornalístico dado...
    O gato que era um chato, 
    queria morrer e nascer homem e imitá-lo
    para colecionar valores (m)orais números carros montanha de concreto e 
    afetos-ouro-de-tolo-caro,
    quando nasceu sendo,

    pôde pensar e pensou:
    vou morrer, pois é assim que vive um homem.
    E assim viveu
    até se suicidar de novo.)

    A curiosidade não matou o gato,
    e sim Sua Ausência, 
    dona fraca e veaca.

10.9.12

A Balada do Vira-Mundo

... me solta, gente! Eu quero atravessar a fronteira.
...Quero ouvir saudades cantadas, choradas, suspiradas,
Molhadas de suor na segunda classe, onde emigrantes fazem mútuas
confidências.
Quero sentir o vento levantando meus cabelos
Quero encher os pulmões com o ar puro dos campos
Quero jogar o resto de tabaco do meu cachimbo nas ondas revoltas.
Quero sentir os olhos dos

que procuram devassar horizontes longínquos
na ilusão de verem lenços acenando.
- Olhos tristes que lembram noites de amor e geram poemas –
Me solta, gente! Eu quero atravessar a fronteira,
Para saber se o beijo de Anor, a que mora em Changai e bebe chá na taça
de Porcelana,
É mais doce que o de Dolores, a que morreu na Rua Madri, agitando o lenço
no ar, como se fosse uma serpente de sangue,
E mais selvagem que o de Wanda, a que uiva de amor, como loba ferida
nos gelos da estepe.
Me solta, gente! Eu quero ir a Sacha por este mundo a fora,
Quero ver ainda os olhos da Sara perdidos no cais, como duas estrelas negras.
Quero respirar fumaça naquela taberna escura de Manilha.
Quero comprar corais daquele marujo cor- de- bronze,
Para que eles pareçam, no colo alvo da minha pecadora,
Marcas sangrentas que meus dentes fizeram.
Me solta, gente! Aquela menina araucana, morena de olhos pretos está me dizendo que o mundo é muito grande,
Enquanto os Andes parecem pontos de admiração gigantescos de cabeça para baixo, com
pingos de condores, quase invisíveis, no alto, parados.
Me solta, gente! Eu quero atravessar a fronteira!
Me solta, gente! Os trilhos do trem de ferro estão escrevendo meu destino no dorso infinito da terra.
Me solta, gente! A brisa do mar está me chamando,
Me chamando,
Me chamando...
 
 Camillo de Jesus Lima

doença da ânsia infeliz

tanto é meu desejo pertubado de andar, 

que paro.

***

minha marcha

pra lá e pra cá

não me tira do lugar.

***

Inquietação sem pé nem engrenagem

não dorme não morde não consola

não acalma

-cansa.


set/2012, fim do inverno. (e tomara que do inferno)