29.6.12

sem título

anda-se como quem quer

cada um com sua verdade:
corpo obsoleto, quadrado absoluto
um círculo torto.

procuro,
heroica, madalena e goiaba,

as verdades
que eu quero andar.
 
ando nua
 
de frio, de gosto, de gozo, de vazio.
eu ando nua
de verdade.
 
 
 
  fim de  maio, 2012

título

talvez por ser maio, talvez por ser mulher, talvez por ser molhada, talvez sobre moral, talvez por causa do aniversário, talvez por solidão, talvez por multidão, talvez pela imensidão, talvez pela pequinês, talvez por me assumir perdida aconteça de eu me esbarrar com a vida. Estou na vida e nem percebi.

fim de maio, 2012

edital




um calendário de poesia.
na rua. teatro. cena. trabalho. gozo.


(pausa para falar do gozo:
o gozo é a coisa mais sem nome que eu vivi no mundo.
pode ser o mundo o gozo.
o gozo pode ser tudo.
desde de um chupar gostoso a uma música te entranhando as pernas
o gozo é tudo.)

janeiro, moço fevereiro, março de peixes (ou era água?), abril para senhorita Maio e o poema do mais triste maio, junho, julho, a gosto setembro orgulho, ou tô no... 9embro, 10embro. acabou.
aí vêm as estações.
só não quero chegar nos dias.
pesquisar as semanas.
tenho dificuldade com horas, mas gosto muito do fim da tarde.


(pausa para um pensamento de dentro para dentro:
"aí, já me perdi.
a poesia é impertinente, pirraça e fica,
fica de teimosia, já mandei ir embora,
sou resignada em ser triste,
a poesia é culpada,
poeta de poesia teimosa.

é por isso que tô caçando emprego!")


fim de maio, 2012


poesia tolice

sonho de menino de 19

mãe, mãe
tinha uns quartos que ultrapassavam
os postes,
a vista das janelas eram as outras janelas
de vida alheia,
que por sua vez,
espiava nossa vida
como se fossêmos novela.
esses, que eram nossos, lares
tapavam, como se faz com buracos, o sol
tão gigante tão escuro...

assustada, a mulher perguntou para o menino,
que lar é esse, que monstro é?

o concreto, mãe.
o prédio.

5.6.12

Um outro Manuel

Poema do mais triste maio


Meus amigos, meus inimigos
Saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.


Acabou-se a idade das rosas!
Das rosas, dos lírios, dos nardos
E outras especies olorosas:
É chegado o tempo dos cardos.


E passada a sazão das rosas,
Tudo é vil, tudo é sáfio, árduo.
Nas longas horas dolorosas
Pungem fundo as puas do cardo.


As saudades não me consolam.
Antes ferem-me como dardos.
As companhias me desolam
E os versos que me vêm, vem tardos.


Meus amigos, meus inimigos,
saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.


(manuel bandeira)

Lenda dos que vivem às margens

Era uma vez...
duas senhoras, Ardência e Estranheza, 
que viviam às margens de um Mar montanhoso.


Estranheza era esguia, parecia um coqueiro,
seus olhos pareciam dois sois de ouro.
Pisava, apesar da leveza, sôfrega
na areia.
Era filha de Nanã.


Ardência,
ah já Ardência era um não dizer.
Engraçado, que Ardência, depois de velha,
deu pra ficar muda. 
Carcará praieiro: só se fazia ouvir,
quando cantava e era porque chovia.
Cantava acalantos feitos para não ninar.
Vejam só: acalantos de acordar!


Certo dia,
Ardência cantava porque chovia,
enquanto Estranheza,
pesadíssima, morria
na areia maré alta.
E assim foi até Estranheza morrer lamaçada de areia
enquanto Ardência cantava.


Ardência chorou tanto porque morria Estranheza.


E não se sabe se de cega ou caduca,
confundiu suas lágrimas com chuva
e por vários dias
cantou acalantos ensurdecedores.
Tempestuosa cólera de Ardência
inundou o Mar e tapou suas montanhas.


O Mar, revolto, endoideceu.
Não se sabe se pelos cânticos ou por inundação,
mas endoideceu
tanto que fez tudo girar
e da areia, grão a grão, poeira estrelar,
fez renascer Estranheza, do mesmo jeito,
antiga e reluzente.


E Ardência
ah já Ardência é um não tempo.
Pois sabe endoidecer o Mar...
Um Mar montanhoso.



3.6.12