21.6.10

(algum tipo de revolta)


Ter que lembrar
(memória,
coração,
história)
me faz chorar.

É melhor pensar
(e viver, e simular abismos, amores,
e iludir, e iludir, iludir, iludida,
dissolvida, diluida,
insípida),

é melhor andar no presente,
e não
ter
que
chorar
escondido,
já que lágrima
é água
- incolor -
r.
inodora.



da proteção.

(ou da roupa)




-ai, como pesa...
... a flor
que
faço de armadura
e que logo
pesa.
O redemoinho,
o pirulito, a bolsa,
os butões,
o copo de plástico vazio
que é rasgado
pelo desconcerto,
então é preciso
pegar outro
cheio
e levar à boca,
esvaziar aos poucos,
porque se não,
não tem dinheiro que dê.
Provocações são armaduras.
-ai, como pesa...
suspirar, dizer, pensar, escrever
pesa.

Pesado.
1. aquilo com excesso de ornamentos.
2. muro, anel de casamento, sapato alto, vestido recatado, árvore caída, meu peito inchado, medo, quem não ama e é amado, quem ama e não é amado, mochila cheia, vento rápido; flor)

Nota:
-A flor só é pesada, quando usada de armadura.





arma dura, amar dura.


...

18.6.10

um inteiro,
chá,
tragada,
de sumiço.



tô precisando.

15.6.10

Hilda.


Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.


Diário de Copa do Mundo

Aproveitei as horinhas desse feriado, dividido em primeiro e segundo tempo, pra caminhar nas ruas que estavam vaziiiiiiiiias, boa pra conversar sozinha. Por um segundo cheguei a desvairar, ingrata, que até as nuvens correram pra frente de alguma TV. Só tinha o céu azuuuul e dei graças por ele não ser patriota. Os botecos feito formigueiros surtados-verde-amarelo, e as ruas todas largas, todas minhas.
-GoOoOoooOOollll!
BooM, trAck, Biiiii, ZuuUm!
(arrasam
com o meu silêncio
os loucos...)

Kitan Végas

Fatalidade
acontece
sem pensar.

...


(...e eu
acho
que
amor também)

Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector.

14.6.10

porque atraso

ainda não sei a ordem alfabética
das letras,
nem
dos
ponteiros.

organizo
pelo
tropeço:

eu perco tempo.