25.8.15

futuro do subjetivo

janela, porta, casa, pedaços de mim ou eu inteira.
umas besteiras, carências, sinceridades, auto-diálogos...

para quem não me conhece que passe a me estranhar,
quando nesse mundo eu me fizer publicada.



____


talvez,
o que chamo
micro eternidade
é o que os outros
chamam instante.

o que quero dizer é isso mesmo:

que o instante é uma pequena eternidade.



9embro, 2014
ssa

reza particular


me faça imensa 
me faça imensa
me faça (a) mar
me faça céu
me faça céu
que as nuvens passem
que as nuvens passem
ora cheias
horas sem
ora ação




verão, 2015
ssa

____

desengolir:
para não engasgar
com vontades


____


assim como dizem os muros dessa cidade: amarelo cura. 
dois dias doidinha sem pisar o pé na rua. uma quase superstição: é que tenho cá comigo que quando chove ninguém sai de onde está, porque algo ali, onde quer que você esteja, necessita de um olhar demorado. e desse demorar vai nascer uma aprendizagem, um sentido arrancado, vai ser devolvido uma calma que só se tem depois de uma tempestade. é tempo de se recolher; r e c o l h e r. e nessa recolheita só o que se pode fazer é plantar planos planaltos e quanto maior o devaneio melhor a realidade. a chuva. tomar um banho de chuva é ser devolvido para a terra. virar lama, lama lenta, lamacenta, placenta, almalama mala lama alma a n a g r a m átic a enigm. a. chuva é ar e terra que se liquefez. eu, sopro carnal, suspiro divino. elo cura. elo cura. elo cura. amarela chuva. dois dias doi doidinha dia.



"E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?"



11deAbriu, 2015, Outono chuvoso
ssa

____


como se o homem fosse vela, barco
e o mar, vento.
o eterno desbravado pelo tempo.
a isso chamam
temporal.

o homem morre.
o mar não,
o mar é para sempre...
palavra de pescador.


o banho chuvoso mais grandioso da minha vida

encharcou até
os órgãos
os ossos
as veias
o coração
tudo corre
correnteza
adentro
destruindo
velhos
caminhos
abrindo
novas
incertezas.


hoje choveu em mim.



maio, 2015
ssa

poem(á)gua


o céu é o mar
de cabeça
pro ar.

é mar o céu.

mergulho alto
voo profundo.

Tarkovsky, em Stalker

"Que se cumpra o idealizado.
Que acreditem.
Que riam das suas paixões. Porque o que consideram paixão, na realidade, não é energia espiritual, mas apenas fricção entre a alma e o mundo externo. O mais importante é que acreditem neles próprios e se tornem indefesos como crianças, porque a fraqueza é grande, enquanto a força é nada.
Quando o homem nasce, é fraco e flexível, quando morre, é impassível e duro. Quando uma árvore cresce, é tenra e flexível, quando se torna seca e dura, ela morre. A dureza e a força são atributos da morte, flexibilidade e fraqueza são a frescura do ser. Por isso, quem endurece, nunca vencerá."

____


eu quero ir mais longe, alcançar lonjuras, alçar meu eu, ficar tonta e rir
eu quero correr numa alegria avermelhada da veia, do pulso
visitar meu olho, ouvir minhas pernas
eu quero ir mais longe
eu vou ali em mim
eu vôo cá


maio, 2014
ssa

____


ABRAÇO
É
ATO

DO VERBO
SOLTAR

____


onde tudo nasce
a lua nasce
cheia cheíssima
onde se morre
o dia
mais um dia
o tempo é nublado
o que o céu quer nos dizer?
quem sabe
que lancemos a alegria dos começos
do que é fresco
sobre
o que finda e precisa findar
quem sabe
o que o nublado quer nos contar?
que existe sopro
e tudo sai do lugar
e que o mundo existe
em dualidade e fragmento
e quem é a gente
pra juntar
mas se tudo existe
ao mesmo tempo
tudo existe junto?
tecido
costurado
emaranhado
discórdia cósmica
se chama
caos?
onde tudo nasce está aberto
onde tudo morre está nublado
o que isso tem a nos dizer?

fim do outono, 2015 - salvador-ba

____

dormir
descansar os pés
no quarto
crescente
sonhar
trajeto para uma lua plena
dormir

01/07/14, inverno

o escuro é fértil

lendo Artaud, a proximidade entre o teatro e a peste (negra). os dois, fenômenos que acionam agudezas, extremidades: morte ou purificação. ele diz da destruição enquanto caminho para o supremo equilíbrio. e essa mesma destruição dá ao homem olhos de ver a si mesmo como é, do fazer cair máscaras, de acionar sombras que iluminem sombras que liberem forças, forças obscuras que leva à origem dos conflitos. trabalho grandioso esse de acessar o próprio escuro. trabalho libertador ante o destino. o escuro é delírio. o delírio é possibilitador.
há muito discordo que amor e dor faz rima. o amor não é bom se doer, acho. comecei achar chato só crescer a custa de conflitos. mas... tenho que lembrar que amor revira, e todo revirar-se é deixar cair, quebrar, romper algo. e tudo isso dói em algum lugar. ás vezes carne disfarçada de pedra obrigada a se rasgar e deixar à mostra o veludo. a entrega custa o dissolver, que é derreter, virar outra coisa: destruir. e destruição não é fim. o big bang nos conta isso. o tempo de paz nem faz nem desfaz. o amor só é bom se dor, mas não quero a dor que não seja libertação.*
lendo Artaud acordei que sim, só se cresce a custa de conflitos, o delírio é vontade de transmutação, a crise é o desvio da rota. a vida passeia nos pólos. a vida é pico. intensidade. não pode menos.
lendo Artaud não sei o que faço com meu desejo de ser zen. álias, sei: é que o importante é que eu desejo. o delírio é desejar. tem que querer.

*parafraseando Manuel Bandeira.

DESVIO

No meio da pedra tinha um caminho
tinha um caminho no meio da pedra
tinha um caminho
no meio da pedra tinha um caminho.
Sempre me lembrarei desse aprendizado
na morte das minhas pernas tão medrosas.
Sempre me lembrarei que no meio da pedra
tinha um caminho
tinha um caminho no meio da pedra
que estava no meio do caminho.
[com sua licença, Drummond, mas chega de melancolia]

12.8.15

____


eu, quando te
respiro,
tu,
me inspira.

alimentados, suspiramos.






____

 aleksandra waliszewska

o espelho
são
os
outros.

r e f l e x o o x e l f e r            
ou alteridade?





















8.8.15

____

deixei
- é tempo de deixar
abrir meu corpo
e de lá
arrancar, por mim, o que
por mim
foi indigesto
é tempo de deixar
cortar
o tecido
volumoso que é feito a pele
são seis
os números que
dão acesso ao
delicado e complexo
interior do
eu, sangue osso
medo
eu agora me vejo tecido
suporto agulhas
cortes
furos
reparos

a gente é bicho frágil,
mas não morre fácil.