25.8.15

o escuro é fértil

lendo Artaud, a proximidade entre o teatro e a peste (negra). os dois, fenômenos que acionam agudezas, extremidades: morte ou purificação. ele diz da destruição enquanto caminho para o supremo equilíbrio. e essa mesma destruição dá ao homem olhos de ver a si mesmo como é, do fazer cair máscaras, de acionar sombras que iluminem sombras que liberem forças, forças obscuras que leva à origem dos conflitos. trabalho grandioso esse de acessar o próprio escuro. trabalho libertador ante o destino. o escuro é delírio. o delírio é possibilitador.
há muito discordo que amor e dor faz rima. o amor não é bom se doer, acho. comecei achar chato só crescer a custa de conflitos. mas... tenho que lembrar que amor revira, e todo revirar-se é deixar cair, quebrar, romper algo. e tudo isso dói em algum lugar. ás vezes carne disfarçada de pedra obrigada a se rasgar e deixar à mostra o veludo. a entrega custa o dissolver, que é derreter, virar outra coisa: destruir. e destruição não é fim. o big bang nos conta isso. o tempo de paz nem faz nem desfaz. o amor só é bom se dor, mas não quero a dor que não seja libertação.*
lendo Artaud acordei que sim, só se cresce a custa de conflitos, o delírio é vontade de transmutação, a crise é o desvio da rota. a vida passeia nos pólos. a vida é pico. intensidade. não pode menos.
lendo Artaud não sei o que faço com meu desejo de ser zen. álias, sei: é que o importante é que eu desejo. o delírio é desejar. tem que querer.

*parafraseando Manuel Bandeira.