1.10.09

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Preciso sair dessa plenitude; preciso sair louca, por aí, ficar bêbada e me trair e depois chorar e depois rir; preciso conversar com Jão, pra falar de Filipe e das coisas que vi na rua e não pude contar pra ele. E Jão nem fica zangado comigo quando eu não converso com ele. Jão respeita meu silêncio.
Eu preciso que alguém quebre o meu silêncio, eu preciso gritar. Não porque estou com nós na garganta, mas porque eu preciso de barulho, barulho barulho. Não, não serve o motor dos carros, nem mesmo o vento cantando alto.
É grito de... da... de gritar.
Preciso que alguém saiba de mim, não só pense que saiba de mim e preciso saber o que acho disso, das pessoas acharem que sabem de mim.
Preciso ouvir Carlos Gardel; e grampear meus diários; e abrir a caixa bem bonita que fiz, pra guardar a minha vida.
Preciso deixar de ser 'guardada'; lembrar que ainda tenho dezesseis anos...
Ah, e não, não estou carente. Eu não tenho nada. Sério mesmo, de verdade.

E outubro chegou, e o ano está acabando e agora o tempo vai ficar desfilando, demorando só porque está chegando no fim. Chegou calmo, contrário do seu decorrer... Eu sei que vai decorrer atormentado. Agora, sou atriz. Faço teatro vou fazer uma participação num filme. E canto e toco, mas não sou cantora. Nas horas vagas eu fico acordada, eu penso e quando penso, não faço nada... Hoje é meu dia de folga. É, agora estou ocupada e tenho dia certo pra vadiar; estou voltando pros braços da Rotina, mas a minha é boa. Jão me entende e sabe que é.
Agora eu vou sair, meu tempo está aberto, e eu sou meu tempo.