2.10.09

Às ilusões.

Disse que estava louco, disso eu sabia. E que era pra ficar feliz. Ai, como ele é redundante... Vive se queixando da infelicidade, e paradoxal, diz que me ama. Será que é justamente o amor que me sente que o faz infeliz? Ai, creio que não. Ele ama muito muito muito, que... como quando tem muito ar dentro de um balão e o que era suficiente pra voar, o faz estourar. Catástrofe. Como chuva forte e demorada que causa alguns danos. E disse rápido. "Te amo de um amor sem dor". Mas é mentira, eu sei que dói. Eu respondi: "Digo o mesmo". E acrescentei: "De verdade". Mas é mentira também, sabendo que ele mareja os olhos por mim, eu marejo os meus; a diferença é que sou um pouco despreocupada e em mim, dói menos. Não é mentira que eu o amo, eu devia revidar dizendo. "Te amo de um amor devagar". Ou calmo, ou lento, ou qualquer coisa que coubesse na minha verdade. É que esse amor, não tem a pressa, não tem paixão. Amizade? Não, às vezes desejo os beijos dele. É amizade sim, mais livre, permissiva, despudorada. É o amor que não veste com as minhas ilusões, por isso não dói. E ele veste com ilusões o amor dele, por mim. Talvez ilusões não doem nele. Talvez ele goste de ilusões. E a cada palavra que troco com ele, vai crescendo a minha certeza do descontentamento que o mora. Pergunta como vai aquele que tem o lugar maior pra cuidar em mim. E desconverso brincando, pra não alimentar a dor."Onde está minha cabeça? Não estou encontrando. Ai! Acabei de colocar a mão em cima de uma..." Ele insiste na dor...

Falamos de malícia. Comigo ele é malicioso (ou devia chamar de esperança?). Também. Espera a primeira brecha, a primeira fresta de luz pra ver se eu quero. Acha sempre que toda palavra que digo é pra ele. E quando digo que não foi, me pergunta se foi para "aquele que tem o lugar maior pra cuidar em mim". É, nunca acha que falo por mim, nunca acha que eu gosto e eu só falo de mim. Ele pensa que sou como ele, que vivo pelos meus amores. E pensa mesmo que sou como ele. Hoje me disse. "Você tem muito de mim em você... Eu tenho muito de você em mim." Eu sou importante pra ele, eu sei. O que tenho dele em mim é silêncio. É ele quem me escuta sempre, e gosta de escutar como cara de bobo, encantado.

Disse antes que ele me dissesse. "Eu não tenho alma, querido... Só tenho pele." E às vezes ele é imprevisível, e gosto. Às vezes me esqueço que ele me ama e que só fala o que eu quero ouvir. "
Você tem pele, dentes, cabelos e olhos tão profundos, que é como se fosse possível enxergar através deles uma alma." Eu insisto, porque gosto de ouvi-lo falar de mim, as pessoas gostam quando alguém dizem delas para elas. "Vai ver que são só os meus olhos que têm alma." Digo feito meninada brincando de pega-pega. Aí ele diz: "...uma alma colorida, que talvez tenha sido infectada pela maneira mais singela pelas cores do mundo. Que é onde você está, não é?" E completa com o que eu disse, no dia em que o conheci e fez ele se apaixonar. Devaneios, ele gosta de devaneios e foi algo sobre o céu que eu poetizei, é fácil poetizar sobre o céu. Não disse aquelas coisas pra nenhum outro homem, fiquei com medo dessas paixões repentinas, à primeira vista, sou desconfiada. E nem vou dizer agora. Mas fiquei feliz dele ter se lembrado. "Se o seu esquecimento, depender da minha lembrança, não tem valor..." Ah, como ele é complicado, chato mesmo; procurando sempre me desarmar, inutilmente, porque eu sou toda realista, não faço rodeios, e no fim, quem fica desarmado é ele, sempre. E as divagações dele me cansa. Então eu disse que precisava sair, sem falar o motivo. Foi aí que ele disse que me amava de um amor sem dor. Mentindo, não com o amor. Fiquei toda frouxa, mas estava cansada... Ele é cheio de nós e eu sou botão desabotoado.

Às vezes queria que ele existisse.