17.6.17

C A I R

tava aqui pensando em cachoeira. é água procurando a terra.
é água em queda, velocidade, beleza, energia, potência. e aí 
pensei também em choro. em chuva. em torneira e até 
em fonte, a aguá tá é sempre querendo o chão. aguá tá é 
sempre escorrendo mesmo. para baixo e sempre em frente. 
água segue. água cega. água viva. água vida. é tanta água. 
é tanta alma, é tanta água alma num corpo. a cachoeira ca
indo me ensina cair também. caio, logo levanto. cair. esse ca
ir, uma oportunidade de seguir. tava pensando em lágrima. 
vi uma uma mulher guerreira chorar e a dei colo. pensei 
que preciso de colo e que colo eu preciso dar. eu sei que sei 
acolher. mas que tá na hora de eu fazer isso comigo mesma. 
me deixar cair nas minhas mãos e braços. alguém cantou 
que foi na beira do rio que oxum chorou e pensei que
 se até oxum chora, por que eu pequinininha não ia chor
ar também, hein. a mulher guerreira chorando não deixou 
de ser uma mulher guerreira. chorar não tira a força 
de ninguém, posto que choro é movimento e movimento
por sua vez gera força. tava aqui pensando que sempre tô
falando de cair, de chorar, de fazer disso um encontro d
e amor e entrega. porque são nessas quedas que pro
curo o divino. hora de fazer pedidos. a queda é um retorno
 à terra. a queda da cachoeira é um retorno ao mar. a queda é 
um retorno à fonte. é um retorno a si mesmo, aos primór
diós. cair para re
fazer a rota. caminho se faz no chão. "andar na t
erra traz muita sorte".