18.9.09

O esquecido.

Levou o braço a altura dos olhos. Olhou as horas. O relógio marcava sete e trinta e cinco. Deu um longo suspiro, o expediente enfim, tinha acabado. O suspiro de descanso logo deu lugar à pressa. Lembrou que não havia deixado dinheiro nenhum em casa; que já havia uma hora que Lívia chegara da escolinha e com toda certeza, cheia de fome. Ah! Doía o coração de Jonas deixar sua filhinha com fome. Essa correria, doía-lhe também o coração. Levantou atónito, colocou alguns papéis na gaveta esquerda da escrivaninha, salvou alguns documentos e em seguida, saiu apressado. Já em seu carro, colocou música pra tocar. Não aguentava mais o barulho pertinente de pessoas. Na verdade, o problema não era com pessoas e sim com as circustâncias que ele tinha que aturá-las...
Jonas era um homem simples, de muito bom gosto literário (tenho até receio de escreve-lo). E uma implicância com filas. Frustrado, tinha que trabalhar nelas o dia inteiro. Suponho até que é por isso o fato do barulho das pessoas o incomodar tanto. Jonas nunca ia à padaria, quem sempre ia era sua esposa, mas viajara até à cidade natal, pois, um primo ou uma tia, sei lá, algum parente se encontrava enfermo . Lívia, seu "amorzinho" (como ele a tratava), ficara. Na escolinha estava aprendendo assinar seu próprio nome. E Jonas ficou maravilhado de cuidar do seu "amorzinho" com minúcia. E ir à padaria comprar algo para combater a fome de sua filhinha era um ato heróico.
Lembrou-se de quando criança, queria ser padeiro. Achava a profissão mais importante do mundo todo. O padeiro, aquele homem, responsável pelo pão-nosso-de-cada-dia e a padaria, era para ele, o Paraíso. Quanto tempo não ia ao paraíso?! Entusiasmou-se com a lembrança, achou bonito a relação que fizera quando criança.
Chegando então ao Paraíso, despedaçou-se. Completamente. E despedaçado aproximou-se da bancada onde pediria o antídoto para a fome de Lívia. Resmungou enfim:
-Tsc Tsc! Fila para comprar pão!
O mundo é bastante flexível. E os paraísos também.